Pensar em um mundo livre de números pode parecer o sonho de muitos, e como vimos no filme a história do número um (para quem não viu recomendo que assista) até possível que se estruture sociedades que não usem os números mas de certa maneira os números sempre surgem de uma necessidade do proprio desenvolvimento humano, isso fica evidente quando notamos que mesmo os homens primitivos
dependiam de cálculos e números para sobreviver.
Saber que 1 antílope era mais
fácil de caçar do que 4 era essencial.
Pequenas quantidades são percebidas
diretamente tanto por humanos quanto por outros animais. Uma galinha sabe se
sua ninhada foi mexida, por exemplo. Isso se chama percepção numérica. A
contagem, entretanto, é um atributo humano, intimamente ligado ao
desenvolvimento da inteligência.
Não se sabe quando o homem começou a medir
coisas de forma quantitativa.
Não sabemos nem quem veio antes, se números
cardinais (1, 2, 3) ou ordinais (1º, 2º, 3º). Alguns antropólogos defendem que
a contagem se desenvolveu especificamente para lidar com necessidades simples
do dia a dia - o que indica que os cardinais apareceram antes. Outra corrente
sugere que os números podem ter sido inicialmente relacionados a rituais que
exigiam ordem de aparição. A primeira estrela a surgir no céu ou a segunda
colheita após a chuva, por exemplo.
O método de contagem mais antigo é o do
osso ou do pedaço de madeira entalhado. Os primeiros testemunhos arqueológicos
conhecidos dessa prática datam do período aurignacense (35 mil a.C. a 20 mil
a.C.). Outras evidências também comprovam que o homem registrava quantidades
com representações de argila e nós em cordas. Um objeto de argila encontrado no
Peru, por exemplo, pode ter significado uma contagem de cabeças de gado.
As
primeiras noções de quantidade com que o homem começou a lidar foram as mais
próximas de sua realidade. Logo, 1 e 2 são os números mais antigos. De 3 em
diante, era tudo uma mesma quantidade disforme que representava muita coisa.
Não importava se era 50 ou 500. Não havia essa distinção. Ou seja, um é pouco,
dois é bom, três é demais. A famosa expressão representa a antiga relação do
homem com os números. Os sumérios, em 3 mil a.C., usavam o termo es para
representar 3 e ao mesmo tempo "muitas coisas". Não havia definição
para 4 em diante.
A própria noção de que um número representa uma
quantidade específica levou séculos para ser absorvida. Dois são 2, não importa
se são 2 ovos, 2 elefantes ou 2 ônibus. Mas, até hoje, alguns idiomas contêm
traços dessa antiga separação entre a quantidade e o número específico para
representá-la. E isso é intrinsecamente ligado à cultura e ao cotidiano de um
povo. Em Fiji, arquipélago no Pacífico pouco menor que Sergipe, cocos e barcos
fazem tanto parte da cultura local que existem palavras diferentes para a mesma
quantidade deles. Por exemplo, 10 cocos é koro e 10 barcos é bolo.
Calcular
faz parte do cotidiano do homem. A verdadeira revolução, portanto, está na
forma de fazer cálculos. Uma novidade que chegou ao Ocidente há menos de mil
anos. "Talvez por ser fruto de práticas coletivas, essa história não poderia
ser atribuída de modo preciso a ninguém", explica Georges Ifrah, autor de
A História dos Números - Uma Grande Invenção.
Até então, havia diferentes sistemas
numéricos, criados por diferentes civilizações, como as mesopotâmicas, maia,
egípcia, grega e chinesa. Todos com uma coisa em comum: desordem. Esses
sistemas tinham um nome ou objeto diferente para cada número. Ou seja,
teoricamente, eram modelos com símbolos infinitos. E, por razões práticas,
nenhum método assim sobrevive por muito tempo. Essa dificuldade de escrever
números grandes também prejudicava a adição, a subtração, a multiplicação e a
divisão. Foi aí que, na Índia do século 5 a.C., surgiu a base decimal, ou seja,
a noção de que números podem ser arrumados hierarquicamente, usando-se apenas
10 símbolos. Por exemplo, apenas com o símbolo 5 pode-se representar infinitos
números: 55, 555, 5555 e assim por diante. Não era mais necessário um símbolo
para cada número.
Caso alguém queria saber mais sobre sociedades que não usam números recomendo a leitura do primeiro capítulo do livro Alex no País dos Números. (estou deixando ele para download no link, contudo é fácil encontrar na rede este capitulo, uma vez que a própria editora liberou)
Fonte: Revista Super Interessante de outubro de 2011
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